quinta-feira, 31 de maio de 2007

Caio Fernando Abreu

.
.
"... então me vens e me chegas e me invades e me tomas e me pedes e me perdes e te derramas sobre mim com teus olhos sempre fugitivos e abres a boca para liberar novas histórias e outra vez me completo assim, sem urgências, e me concentro inteiro nas coisas que me contas, e assim calado, e assim submisso, te mastigo dentro de mim enquanto me apunhalas com lenta delicadeza deixando claro em cada promessa que jamais será cumprida, que nada devo esperar além dessa máscara colorida, que me queres assim porque é assim que és e unicamente assim é que me queres e me utilizas todos os dias, e nos usamos honestamente assim..."
.
.
- À beira do mar aberto -
.
.
Os dragões não conhecem o paraíso
.
.
.
.
.
"E tudo que eu andava fazendo e sendo eu não queria que ele visse nem soubesse, mas depois de pensar isso me deu um desgosto porque fui percebendo, por dentro dsa chuva, que talvez eu não quisesse que ele soubesse que eu era eu, e eu era"
.
.
- Além do ponto -
.
.
Morangos Mofados
.
.
.
.
.
"De onde vem essa iluminação que chamam de amor, e logo depois se contorce, se enleia, se turva toda e ofusca e apaga e acende feito um fio de contato defeituoso, sem nunca voltar àquela primeira iluminação?"
.
.
- Anotações Insensatas -
.
.
Pequenas Epifanias
.
.
.
.
.
"Não diz nada, você não diz nada. Apenas olha para mim, sorri. Quanto tempo dura?"
.
.
"Você não me conta seus desejos. Sorri com os olhos, com a mesma boca que mais tarde, um dia, depois daqui, poderá me dizer: não"
.
.
"Há uma espécie de heroísmo então quando estendo o braço, alongo as mãos, abro os dedos e brota. Toco. Perto da minha a boca se entreabre lenta, úmida, cigarro, chiclete, conhaque, vermelha, os dentes se chocam, leve ruído, as línguas se misturam. Naufrago em tua boca, esqueço, mastigo tua saliva, afundo. Escuridão e umidade, calor rijo do teu corpo contra a minha coxa, calor rijo do meu corpo contra a tua coxa. Amanhã não sei, não sabemos"
.
.
- Anotações sobre um amor urbano -
.
.
Ovelhas Negras
.
.
.
.
.

Nenhum comentário: